domingo, 10 de dezembro de 2017

Uma tela de Columbano no tecto do Pavilhão de Vendas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha

Devo a Margarida Araújo a descoberta e investigação da relação entre a obra de Columbano – Alegoria à Cerâmica – e a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha fundada em 1884.
Tudo começou com uma fotografia de Francesco Rocchini que faz hoje parte do acervo do Arquivo Histórico Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa, e que a seguir se reproduz.
Pavilhão de Vendas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha
[Arquivo Histórico Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa]
Trata-se de um negativo em gelatina e prata de vidro, com as dimensões de 24x30 cm. De acordo com a nota biográfica publicada no site do Arquivo Português de Fotografia, “Francesco Rocchini nasceu em Monte Leone, Itália, por volta do ano de 1820. Veio para Portugal na década de 40 do século XIX (1844 ou 1847) e era marceneiro de profissão. Provavelmente aprendeu o processo do daguerreótipo com K. P. Corentin que em 1851 ensina-lhe a técnica em Lisboa. Fotografou pelo país inteiro, aliando as actividades de marceneiro, fotógrafo, fabricante de máquinas, de acessórios para fotografia e de pequenos laboratórios para trabalhar ao ar livre. Inicialmente localizado na Travessa de Santa Gertrudes, à Estrela, estabeleceu-se depois com um estúdio de fotografia na Travessa da Água Flor, n.º 21, 2º a São Pedro de Alcântara, no decurso do ano de 1865. Foi fornecedor de imagens para revistas nacionais e estrangeiras, nomeadamente a Ilustração Portuguesa, o Panorama Photographico e O Ocidente, e para as Academias de Belas Artes. Foi também fotógrafo da Casa Real portuguesa. Publicou parte dos seus trabalhos em álbuns com albuminas de vistas e monumentos. Rocchini morreu em 1895 continuando o seu estúdio em funcionamento, o seu novo proprietário, J. Nunes Ribeiro, alterou o nome comercial da casa para Fotografia Beleza”.
A imagem regista o interior do Pavilhão de Vendas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, estabelecida em 1884 nesta vila, cujo director artístico era Rafael Bordalo Pinheiro. Esse pavilhão esteve na mira de diversos fotógrafos, tendo alguns dos clichés sido editados em bilhete postal ilustrado nos finais do século XIX e primeiros anos do século XX.
Mostram-se, em seguida, algumas dessas fotografias da época, quer do interior quer do exterior do Pavilhão.




O que intrigou a dr.ª Margarida Araújo foi a pintura que se pode observar no tecto do Pavilhão de Vendas. Não se encontrou, até agora, em nenhuma outra das imagens conhecidas daquelas instalações.
Ampliando a reprodução fotográfica, foi possível identificar a pintura. Trata-se de uma das alegorias pintadas por Columbano (aliás Columbano Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael), esta dedicada à cerâmica.
A obra, que a seguir pode ser observada, faz hoje parte do acervo do Museu de Arte de S. Paulo, onde foi incorporada, por doação, em 1972 (cf. https://www.masp.org.br/acervo/obra/alegoria-da-pintura-sobre-ceramica).

A análise dos elementos que compõem a tela não deixa dúvidas. No lado esquerdo, da pintura podemos ver um forno, da tipologia “Minton” da Fábrica de Faianças (abaixo, insere-se uma fotografia da antiga Fábrica com esses fornos característicos), e, no lado direito, os volumes arquitectónicos do próprio Pavilhão de Vendas. Em baixo à direita, uma talha de grandes proporções ostenta os elementos decorativos comuns à louça naturalista caldense da segunda metade do século XIX.
Fotografia das antigas instalações industriais da
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha
A pintura está datada de 1885, ou seja do próprio ano em que as instalações industriais da Fábrica foram inauguradas, com os aludidos fornos de refractário para cozedura de faiança utilitária de mesa. Tem as dimensões de 500x300 cm, certamente adequadas ao espaço a que se destinava.
Por motivos que desconheço, mas a que poderá não ser estranha a crise financeira que atingiu irreversivelmente a empresa em 1890, a tela foi retirada do Pavilhão de Vendas, sendo substituída por outra decoração, mais convencional. Deve ter estado exposta nas Caldas provavelmente apenas na segunda metade da década de 1880, quando foi fotografada por Rocchini.



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