terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Jorge de Almeida Monteiro e a Cerâmica Bombarralense

A história da cerâmica tem no Bombaral duas páginas importantes: a Cerâmica Bombarralense (1944-1954) e a Ceramarte (1969-1991). À primeira está ligado o nome de Jorge de Almeida Monteiro, ao segundo o de Virgílio Correia e sua mulher, Maria da Natividade Mendes (Natas).
Jorge de Almeida Monteiro nasceu no Bombarral em 1908 numa família ligada ao pequeno comércio. Seu pai, Custódio de Almeida Monteiro, tinha uma loja de vidros e louças.
Frequentou nas Caldas da Rainha a Escola Primária Superior e a Escola Industrial e Comercial. Aqui começou pelo curso comercial, que não concluiu, para mais tarde se matricular no de cerâmica.
Casou, em 1938, com Atalanta, filha de Evaristo Judicibus, proprietário de uma tipografia. Almeida Monteiro divide o tempo entre a loja do pai e a gráfica do sogro. Faz trabalhos de reparação de mobiliário, utilizando o cobre e a madeira, aventurando-se por vezes na criação de peças em cobre martelado.
O contacto com Alberto Morais do Vale, em 1940/41, renovou em Jorge Almeida Monteiro o interesse pela cerâmica. Morais do Vale, escultor e ceramista, era professor e director da Escola Técnica das Caldas da Rainha e director artístico de uma oficina de cerâmica nesta cidade - Cerâmica Moderna. Naquela data, organizou no Bombarral um curso de artes plásticas no qual Almeida Monteiro se inscreveu. A frequência do curso estimulou-o a projectar a fundação de uma fábrica de cerâmica.
A Cerâmica Bombarralense L.da surgiria em 1944. Dedicava-se à faiança, produzindo louça decorativa e azulejo. Obteve alvará para produzir porcelana, secção que não chegou a instalar.
Anúncio da constituição da Cerâmica Bombarralense.
Gazeta das Caldas, 1944. [Cortesia de Dóris Santos]
A fábrica tornou-se também local de encontro artístico e político. Júlio Pomar e Alice Jorge, Vasco Pereira da Conceição e Maria Barreira, David de Sousa, Stella de Brito e Hernâni Lopes foram alguns dos artistas que o frequentaram. O ambiente cultural e estético era marcado pelo neo-realismo. Na década de 50, José Dias Coelho fez igualmente experiências de cerâmica na Bombarralense.
Carta de Julio Pomar para Jorge de Almeida Monteiro.
[Cortesia de Dóris Santos]
Foi nela também que, em 1944, o jovem pintor de cerâmica Ferreira da Silva, vindo de Coimbra aos 16 anos, principiou a sua carreira. Em painéis datados de 1954, a assinatura deste artista é acompanhada da menção "Estúdio Jorge Almeida Monteiro", designação provavelmente inspirado no Estúdio que Hansi Staël abrira pela mesma altura na SECLA, nas Caldas da Rainha.
No princípio da década de 1950, o escritor João Fragoso veio à Cerâmica Bombarralense testar e produzir azulejos de uma encomenda para as novas instalações do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, inauguradas em meados de 1953.
Exemplar de A Nossa Terra, 1950
[Cortesia de Dóris Santos]

Em 1954, a Cerâmica Bombarralense fechou, na sequência de um incêndio que a apanhou descapitalizada. A respectivo alvará, na parte que autorizava a produção de porcelana, foi adquirido por elementos da família alcobacense Da Bernarda, com o qual viria a montar a unidade fabril SPAL.
Almeida Monteiro fundou a seguir uma oficina para os seus trabalhos de cerâmica, gravura e cobre martelado, a qual funcionaria até 1974. Recebeu encomendas de painéis decorativos para diversas empresas.
Paralelamente desenvolveu o interesse pela arqueologia, assinando diversos trabalhos com especialistas nacionais, como Octávio da Veiga Ferreira e Fernando de Almeida. Na Nazaré, localidade à qual a sua actividade se alargou, colaborou com Eduino Borges Garcia e apoiou a criação do Museu Etnográfico e Arqueológico Joaquim Manso.
Esteve presente nas Exposições Gerais de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes, entre 1949 e 1954, e, na década de 60, em diversas exposições colectivas em galerias de Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Angra do Heroísmo, Funchal, com escultura em metal e com gravura. Também participou na Exposição de Gravadores Portugueses de 1955 e integrou o catálogo da Gravura, Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, de 1959. Trabalhos seus estiveram expostos em Gotemburg (Suécia), Madrid e Roma.
Faleceu em 1983.

Bibliografia
Humberto Sousinha Macatrão, "Jorge de Almeida Monteiro". Jorge de Almeida Monteiro, 1908-1983. Museu Municipal do Bombarral, 1997
Isabel Xavier (coord.), Ferreira da Silva: Obra em Espaço Publico. Caldas da Rainha, 2017.

João B. Serra


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