sábado, 28 de setembro de 2019

Fichas do Património Empresarial Caldense do Sec. XX: SECLA

Alberto Pinto Ribeiro e a fundação da SECLA*

Joaquim Alberto Pinto Ribeiro nasceu em Lisboa em 1921. Uma aptidão natural para o desenho conduziu-o à Escola de Belas Artes de Lisboa, em 1938, para cursar Arquitectura. Dificuldades económicas familiares forçaram-no, porém, a interromper os estudos.
Foi então admitido como recepcionista no Hotel Avis, mercê das suas competências no domínio de línguas estrangeiras.
Em 1941, torna-se o primeiro funcionário português da Standard Oil Company of New Jersey, conhecida pela sigla ESSO, que decidira montar um escritório em Portugal. A rede de relações com o mercado americano, que estes dois primeiros empregos lhe possibilitaram, revelar-se-ia fundamental para o lançamento e consolidação do projecto seguinte, no sector da produção cerâmica de exportação. De facto, foi naquele contexto que conheceu um empresário novaiorquino, Clifford Furst, co-proprietário duma joalharia na 5ª Avenida, a Castlecliff, que o convidou a ser seu agente na compra de artesanato português.
Do leque de produtos cujo potencial exportador lhe competia identificar, fazia parte louça, designadamente louça das Caldas.
Foi a possibilidade de ter um negócio próprio que levou Alberto Pinto Ribeiro, estimulado por Furst, a fundar uma empresa que tinha por objecto a colocação de cerâmicas caldenses no mercado americano. Clifford conhecia bem os trâmites da importação e venda de produtos artesanais e alertou o seu agente para a dimensão das encomendas, os prazos de entrega e as condicionantes do design. O contacto directo com os fabricantes caldenses levou Pinto Ribeiro a concluir que teria de intervir directamente na produção, de passar de agente a empresário.
Alberto Pinto Ribeiro
Encontrou na Volcar, um empresa de origem britânica, activa em Portugal no período da Grande Guerra na exploração de volfrâmio, um parceiro para constituir a sua empresa.
A fábrica de manilhas de grés de Inácio Perdigão, na rua Henrique Salles, aceitou ceder parte das suas instalações para a produção das faianças de Pinto Ribeiro. Foi ali que nasceu a Fábrica Mestre Francisco Elias, ainda em 1944. No ano seguinte já disporia de oficinas próprias, num terreno onde o pai de Alberto possuía uns barracões.
Foram atribulados os primeiros tempos da empresa. Furst desistiu das importações, para se centrar na joalharia e a Volcar também não quis prosseguir com o investimento na cerâmica. O lugar do primeiro veio a ser ocupado por Martin Freeman, e o da segunda preenchido por quatro novos sócios: Fernando da Ponte e Sousa, Fernando Carneiro Mendes, Vitorino Costa Vinagre e Américo Castro Arez, estes três últimos sócios da empresa Costa & Arez Lda, uma firma que representava diversas marcas de aparelhos rádio-eléctricos de recepção e difusão.
É com a constituição desta nova sociedade que a empresa muda o seu nome para SECLA, Sociedade de Exportação e Cerâmica Lda, em Dezembro de 1946.
A SECLA em obras
Alberto Pinto Ribeiro, com uma quaota de 25%, é o gerente de fábrica. Constitui família, passa a residir nas Caldas da Rainha. Em poucos anos, revoluciona, tanto no plano técnico e tecnológico, como no planos artístico e decorativo a produção de louça das Caldas.
A sua presença na fábrica faz-se sentir em múltiplas frentes: a da orientação técnicas, a do design, a do contacto com os clientes e o da gestão comercial e empresarial. Neste ultimo domínio, há que registar que a SECLA se torna uma empresa de grande dimensões, assumindo que lhe cabe também desenvolver funções sociais para os trabalhadores e famílias: desde a assistência médica ao fornecimento de refeições, desde a actividade cultural à prática desportiva.
E ainda encontra disponibilidade para dar aulas de Química Tecnológica na Escola Industrial, que encara como um campo potencial de recrutamento de ceramistas para a SECLA.
Fachada principal da SECLA nos anos 1950
A modernidade que traz à produção de louça das Caldas traduz-se em novos produtos, em novo design, em novas cores, em novas pastas e novos processo e equipamentos de conformação e de cozedura. Uma das inovações mais significativas que introduziu na produção corrente assentou no novo papel que atribuiu à pintura, em detrimento das composições relevadas que tinham sido apanágio da louça naturalista caldense desde o último quartel do século XIX.
Louça da SECLA
A Alberto Pinto Ribeiro se deve também o acolhimento e o apoio ao trabalho livre e autónomo de artistas na empresa. Os primeiros convites dele partiram, e foram dirigidos e arquitectos e artistas plásticos que conhecera pessoalmente na Escola de Belas Artes de Lisboa. Depois de 1954, com a criação das funções de direcção artística e a sua atribuição a Hansi Staël, esse papel foi partilhado.
Em 1966,  retira-se da gerência da SECLA e regressa a Lisboa onde funda a empresa Portus Lda e recupera o desafio original de exportar produtos de artesanato portugueses.

*Texto redigido com recurso às seguintes fontes: entrevista realizada por João B. Serra e Sofia Baptista a João Pinto Ribeiro a 25 de Janeiro de 2019; a obra de Alberto Pinto Ribeiro, A Nova Cerâmica das Caldas (sec. XX). Lisboa, Edição de Autor, 1989.

Fichas do Património Empresarial Caldense do Sec. XX: FRAMI

A F. A. Caiado[1] surgiu em 1929, com registo legal em 1930. O seu promotor, Francisco António Caiado era um homem ambicioso. Tinha trabalhado em Peniche, Azambuja, no sector alimentar, antes de obter emprego na firma F. Ladeira, uma empresa do sector da armazenagem e distribuição de cereais.
Na origem da F. A. Caiado está a torrefacção de café. A operação baseava-se inicialmente na importação de matéria prima brasileira. Chegou a ser a 2ª torrefacção do país.
Em momento posterior, a F. A. Caiado entrou no sector das mercearias finas, distribuindo produtos especiais importados.
Em 1947, Francisco Caiado é desafiado pelo tipo de negócio corporizado nas lojas “Mariazinha”. É assim que surge uma fabrica de bolos. Mas a sazonalidade do negócio da pastelaria obriga-o a procurar uma compensação. É assim que surge a confeitaria. E a mudança de nome para FRAMI (de Francisco e Mimi, das iniciais do seu nome e do da mulher, Maria Casimira).
Nos anos 50, entram no negócio os seus dois filhos. Rogério estudava no Colégio Moderno, mas interrompe os estudos. Seu Pai envia-o ao estrangeiro ver fábricas e máquinas. A Frami adquire fornos eléctricos para produção de drops, cuja polivalência é aproveitada para a produção de compotas.
Localizada na cidade, onde hoje se ergue o complexo cultural CCC, o crescimento obrigará à ponderação da criação de uma nova unidade fabril. O grupo familiar divide-se quanto à oportunidade e direcção dos negócios, mas vence a opção fabril, com o voto de qualidade do fundador. Não foi fácil conseguir alvará, mas estando disponível um alvará para o concentrado de tomate, foi essa a área escolhida. A produção estendeu-se aos sumos de frutas e aos legumes enlatados (ervilhas, favas, cenouras, etc).
A guerra em África representou outra grande oportunidade de negócio para a FRAMI: as rações de combate. A produção obedecia a regras de controlo de qualidade exigentes e por isso a fábrica teve de se dotar de um laboratório. A empresa tinha de garantir não apenas a qualidade dos produtos como a resistência das embalagens, a testar sob elevadas temperaturas e ambientes de alto teor de humidade.
A expansão da empresa no sector dos frutos e legumes obrigou a controlar a produção agrícola. A empresa dotou-se de um corpo de engenheiros agrónomos que tinham à sua responsabilidade o acompanhamento das unidades agrícolas do Oeste e Ribatejo onde a Frami adquiria os produtos para as suas conservas e sumos.
A empresa tinha armazéns em Lisboa, Porto e Faro e exportava para Reino Unido, França, Alemanha, Austria, Itália (matérias primas), Península Escandinava, Estados Unidos, Canadá e Japão.


[1]Fonte: entrevista com Rogério Caiado, 21 de Junho de  2007.

Fichas do Património Empresarial Caldense do Sec. XX: CAPRISTANOS

Artur Capristano inicia o negócio do transporte rodoviário de passageiros em 1933. Residente então no Bombarral, adquiriu um autocarro de passageiros para efectuar a ligação entre esta vila e a Lourinhã.  Empreendendor e habilitado com carta de condução, encontrou um sócio capitalista que fizera fortuna no comércio dos vinhos para financiar a compra do equipamento. A firma chamou-se Capristano & Ferreira, Lda.
O êxito da empresa[1] manifestou-se na expansão do número de camionetas, na ampliação das rotas e no movimento de passageiros. Lisboa e Leiria, Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande entram nos percursos e na rede de garagens. Depois adquiriu outras empresas concorrentes sediadas nas Caldas da Rainha, ganhando as rotas das Caldas a Peniche, a Santarém e a Lisboa. Junto das garagens, funcionavam oficinas, pois os veículos necessitavam de peças de substituição e as carrocerias eram montadas no destino.
A Guerra perturbou o negócio, tanto na procura como no abastecimento de combustível. Os autocarros passaram a funcionar a gasogéneo, produzido a partir do carvão mineral. Mas, depois de 1945, recuperou o crescimento.
Divergências entre os dois sócios determinaram uma separação: o negócio do transporte ficou com Capristano e o das garagens com Ferreira, por um período de 10 anos. Mas Artur Capristano, com os seus dois filhos, Artur e José, deita de imediato ombros à reconstituição da unidade do projecto empresarial e decide mudar a sua sede para as Caldas da Rainha.
A nova sede da Capristanos é inaugurada em Fevereiro de 1949. Trata-se de um edifício singular na época, no centro da cidade, concebido pelo arquitecto Camilo Korrodi, decorado com um alto relevo de Anjos Teixeira Filho. No complexo, além da estação rodoviária e da garagem, foram instalados um café, um restaurante de luxo, uma barbearia e uma tabacaria. O ambiente era animado com música gravada e, aos domingos, com música ao vivo no café. 
A instalação da Capristanos nas Caldas completou-se com um bairro de empresa, onde os motoristas, os cobradores, os empregados de escritório e os mecânicos residiam. 
Em 1961, Artur Capristano vende inesperadamente a empresa à sua congénere Claras, de Torres Novas.


[1]Fonte: Carlos Cipriano, “Empresa Capristanos: há 50 anos foi um motor inestimável do desenvolvimento local e regional”, in Gazeta das Caldas, 14 de Maio de 1999.

Fichas do Património Empresarial Caldense do Sec. XX: SEOL

Surgiu em 1948[1], criada pelas companhias Hidroeléctrica do Alto Alentejo, Eléctrica das Beiras e Reunidas de Gás e Electricidade.
Objectivo: fornecer energia eléctrica ao consumo doméstico e industrial dos concelhos da área emergente do Oeste.
A Seol comprava energia em alta tensão àquelas companhias produtoras e vendia-a em baixa tensão aos consumidores finais.
A sede era nas Caldas, nos chamados prédios do Viola, onde também habitava o pessoal qualificado da empresa.
Começou por abastecer Porto de Mós e Batalha. Houve que proceder à montagem de uma linha entre Porto de Mós e Caldas, de forma a substituir aqui a pequena central, localizada junto á linha do caminho de ferro, na Rua da Electricidade, que produzia energia para a cidade. Essa linha passava também por Alcobaça e prolongava-se até à Várzea de Óbidos. Mais tarde chegou a Peniche, Lourinhã e Cadaval e, para norte, à Marinha Grande.
Particularmente importante era chegar a Peniche, cidade abastecida por uma pequena central a gasóleo que não tinha capacidade nem fornecer emergia às habitações e muito menos às indústrias de frio e conservas. Estas fábricas tinham geradores próprios, que funcionavam deficientemente.
Nos prédios do Viola, na rua Fonte do Pinheiro, funcionavam escritórios e oficinas. Um sector administrativo ocupava-se de contratos e contabilidade. Um sector técnico de projectos de extensão de linhas, concepção das subestações e a montagem dos postos. A distribuição de baixa tensão supunha linhas de média tensão, a instalação final de contadores e um serviço eficaz de manutenção e reparação de avarias. O pessoal das oficinas efectuava a construção das estruturas, só se adquirindo no exterior os isoladores cerâmicos.
As subestações armazenavam a energia adquirida. Eram, nos anos 60, quando a empresa começou a crescer com a procura industrial e da rede de frio para o sector hortofrutícola e das pescas, sobretudo dois: em S. Jorge (para a energia adquirida à Hidroeléctrica do Alto Alentejo e das Beiras) e na Sancheira (para a energia comprada às Companhias Reunidas do Gás e Electricidade).
O crescimento deste sector teve impacte na economia, na vida quotidiana e no ensino secundário. A formação de electricistas ganhou lugar importante na Escola Técnica das Caldas da Rainha. Os tecnicos da SEOL asseguraram o ensino, em regime pós-laboral, naquela escola escola secundária.


[1]Fonte: entrevista com Ernesto Ferreira Arroz, a 20 de Junho de 2007