quarta-feira, 22 de maio de 2019

Um Museu para a Cidade Cerâmica (parte I)

Cerâmica: Cidade, Património e Museologia
Um Museu para a Cidade Cerâmica

Relatório*

João B. Serra**

Resumo***
O relatório parte de um diagnóstico sobre a oferta patrimonial caldense no domínio da cerâmica, sublinhando o acumulado histórico singular de mais de cinco séculos de actividade ininterrupta e a diversidade de colecções públicas e privadas existentes. Analisa em seguida as fragilidades e carências da resposta museológica actual e desenvolve propostas que fundamentem um novo conceito de museu – o museu da cidade cerâmica. Este museu articula os patrimónios cerâmicos, traduzidos em saberes, produtos e história, e gere, segundo um modelo que se quer inovador, os recursos disponíveis e a criar. Sem deixar de abordar o tema do museu-edifício, o relatório aponta um horizonte de integração, onde a cerâmica é um caminho para a descoberta, a experiência, o conhecimento e a criação.



A. Diagnóstico

1. As colecções
A formação de um objecto de apreço e colecção identificado com o centro produtor de louça das Caldas remonta ao rei D. Fernando II, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha (1816-1885) que, a partir pelo menos de 1852, visitou as oficinas caldenses, incentivou alguns dos fabricantes, nomeadamente Manuel Mafra, assinando, inclusive, peças realizadas na oficina deste último. Entre os nomes que adquiriram cerâmicas caldenses, na segunda metade do século XIX e no século XX, figuram os seguintes nomes:José Relvas (1858-1929), Cruz Magalhães (1864-1928), Alexandre Lucas Cabral (1907-983), António Duarte (1912-1998), Artur Maldonado Freitas (1912-2000), João Fragoso (1913-2000),António Capucho (1918-2008), João Maria Ferreira (1932-), Joe Berardo (1944-).
A colecção de Cruz Magalhães, constituída em torno de Rafael Bordalo Pinheiro, legada à Câmara Municipal de Lisboa, veio a dar origem ao Museu que tem o nome daquela figura. Tanto a sua primeira directora, Julieta Ferrão, (1899-1974), como a conservadora do Museu da Cidade, Irisalva Moita  (1924-2009), atribuíram o maior destaque à colecção de cerâmicas bordalianas. Irisalva comissariou, em 1984, ano do centenário da fundação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, de que Rafael foi director artístico, a mais completa e cuidada exposição de cerâmicas bordalianas até hoje realizada. Mais recentemente, em 2018, o Museu, agora dirigido por João Alpuim Botelho, organizou uma exposição intitulada “Formas do Desejo: a Cerâmica de Rafael na Colecção do Museu Bordalo Pinheiro” comissariada por Pedro Bebiano Braga, com catálogo e ciclo de palestras associados.
António Montês (1896-1967), fundador e primeiro director do Museu José Malhoa, deu início à primeira colecção pública de cerâmica caldense na cidade das Caldas da Rainha, com vista à formação de um Museu de Cerâmica, projecto anunciado na década de 1960. Em Abril de 1963 abriu uma “Exposição de Cerâmica e Olaria das Caldas da Rainha – de Maria dos Cacos a Costa Mota”. A Exposição teve lugar no museu Malhoa, comissariada por Julieta Ferrão, foi patrocinada pelo Secretariado Nacional de Informação que a tinha encomendado ao Museu de Arte Popular. Julieta Ferrão não promoveu investigação especifica para esta exposição, para lá da que ela própria tinha efectuado sobre a obra de Rafael Bordalo Pinheiro. Baseou-se na narrativa proposta por José Queirós para a história da cerâmica caldense no seu livro Cerâmica Portuguesa, de 1907.
Do catálogo constam 340 peças, das seguintes proveniências:
Colecções
nº de peças
Observações
Colecções particulares
182
54,4%
Círculo Eça de Queirós (Lisboa)
1

Maria Helena Coimbra (Caldas da Rainha)
1

Manuel Espírito Santo Silva (Lisboa)
1

Manuel de Melo Correia (Óbidos)
1
“Peça italiana inspiradora”
António Rafael (Caldas da Rainha)
1

António Alves (Antiquário, Lisboa)
2

Maria da Graça Viana Roquette (Lisboa)
2

José de Campos e Sousa (Lisboa)
3

José Pinto Basto (Gaeieras, Óbidos)
3

Adelaide Pereira (Caldas da Rainha)
3

Carlos Aurélio Nascimento (Caldas da Rainha)
4
Avelino Belo
Manuel J. Soares Teixeira (Carcavelos)
4

Maria Antónia Paramos Baptista de Carvalho (Caldas da Rainha)
6
Mafra, Avelino Belo
Ourivesaria Ferreira e Santos (Caldas da Rainha)
6

Maria Cristina Bordalo Pinheiro (Lisboa)
8

Conde da Foz (Torres Novas)
12
Rafael e Manuel Gustavo
Manuel Gameiro (Antiquário, Lisboa)
15

Visconde de Sacavém (Caldas da Rainha)
19

Diniz Bordalo Pinheiro (Penha Longa)
39
Nota: colecção que foi do seu tio Rafael Bordalo Pinheiro
Alfredo Cabral (Lisboa)
51
Bordalo e contemporâneos
Colecções institucionais
17
5%
Casino de Recreio (Caldas da Rainha)
1

Pousada do Castelo (Óbidos)
2

Igreja de S. Pedro (Óbidos)
5

Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro Lda
9

Colecções públicas
135
40,4%
Palácio da Pena (Sintra)
6

Escola Industrial e Comercial (Caldas da Rainha)
10

Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa)
40

Museu de José Malhoa (Caldas da Rainha)
79
23,6% (58,5%no seu conjunto)
Museu José Malhoa
Cerca de um quarto de século mais tarde, em 1977, uma nova exposição museológica da cerâmica caldense tem lugar. Ocorre no quadro das comemorações dos 50 anos da elevação das Caldas da Rainha a cidade, também é acolhida no Museu José Malhoa, e entendida como uma alavanca da criação de um Museu de Cerâmica. O comissário foi Rafael Salinas Calado (1937-2006), conservador do Museu de Arte Antiga com responsabilidade na área da cerâmica. A iniciativa contou com apoios da Fundação Calouste Gulbenkian, da Secretaria de Estado da Cultura e da Câmara Municipal das Caldas da Rainha e teve a participação do Director do Museu Malhoa, João Saavedra Machado e da conservadora Nicole Ballu Loureiro.
As 829 peças expostas apresentavam a seguinte distribuição:
Colecções
Nº de peças
Observações
Colecções privadas
438
52,8%
Frederico Nunes Silva
1

Henrique Pereira
1

José Pedro
1

Manuel de Melo Correia
1

Elísio do Couto
1

A. Furriel
1

Francisco José Teodoro Malhoa
2

Joaquim António Penim Batalha
2

Jorge Nogueira Vaz
2

Maria Fernanda Vera Jardim Caminata
2

Rafael Salinas Calado
2

Jaime Isidoro
3

Eduardo Loureiro
4

Maria Helena de Abreu
4

Júlio Paramos
5

A. Miguel
5

Álvaro Duarte
6

João Maria Ferreira
10

Mário Conceição Rocha
12

José Pedro (Sacavém)
23 (min)

Manuel Gameiro
30

António Rafael
34

Alfredo Lucas Cabral
41

Joaquim Ladeira Baptista
41 (min)

Artur Maldonado Freitas
45

António Duarte
50

António Capucho
109

Colecções institucionais
69
8,3%
Faianças Belo
14

Faianças Secla
20

Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda
35

Colecções públicas
322
38,8%
Escola Comercial e Industrial das Caldas da Rainha
1

Câmara Municipal das Caldas da Rainha
4

Câmara Municipal do Porto
4

Museu Nacional de Machado de Castro
4

Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia
14

Museu de Arte Popular
14 (+9 min)

Palácio Nacional da Ajuda
17

Câmara Municipal de Lisboa/Museu Bordalo Pinheiro
24

Museu Nacional de Arte Antiga
29

Museu de José Malhoa
202
24,3%(62,7% no seu conjunto)
Do mesmo modo que, de 1963 para 1977, se verificou uma mobilidade das colecções privadas e públicas, idêntico fenómeno ocorreu certamente de 1977 até aos nossos dias.
No sector das colecções privadas, registaram-se diversos tipos de movimentos: uma importante colecção privada, a de Alfredo Lucas Cabral, constituída por cerca de 300 peças, foi adquirida pelo Estado em 1981, para constituir o eixo base do Museu de Cerâmica.
Museu de Cerâmica (Palacete do Visconde de Sacavém)
Houve colecções desfeitas: a de Artur Maldonado Freitas (parcialmente adquirida pela Câmara Municipal, um núcleo depositado no Museu de Cerâmica e outra parte vendida), a de António Capucho (dividida em lotes e leiloada), a de António Duarte (vendida). Peças da colecção de João Fragoso entraram na posse da Câmara Municipal. 
As mais importantes colecções particulares de louça das Caldas são, hoje, a de José Berardo e a de João Maria Ferreira. A de José Berardo formada nos anos 90, por peças adquiridas no Brasil para onde tinham migrado, muitas delas na bagagem de exilados, abrange algumas centenas de peças na sua maioria do período de inspiração naturalista, de Bordalo, contemporâneos e sucessores imediatos. Muito mais ampla e compreensiva é a colecção de João Maria Ferreira, com cerca de 2000 peças, abarcando exemplares de louça caldense desde finais do século XVIII até aos tempos actuais.
Das quatro colecções institucionais assinaladas em 1977, mantêm-se duas delas, a da Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro Lda e a da Escola Rafael Bordalo Pinheiro. Perdeu-se a da Faianças Belo, com o encerramento da empresa em 1985, enquanto o espólio da SECLA, fábrica encerrada em 2008, foi objecto de depósito e incorporação no Museu de Cerâmica e na colecção da Câmara Municipal.
Em contrapartida, duas colecções institucionais emergiram depois de 1977, no CENCAL e na ESAD.
O Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica foi criado em 1981 e, ao longo dos anos de existência, congregou um interessante conjunto de peças oriundas, quer da aprendizagem dos seus alunos, quer dos workshops proporcionados pelos artistas e designers convidados, quer dos concursos a que esteve ligado 8como o concurso Jovem Designer, entre 1996 e 2000), quer pelos professores/autores que participaram em iniciativas do Centro. 
A Escola Superior de Artes e Design não terá dispensado, nos seus primeiros tempos, prioridade ao arquivo dos materiais associados ao curso de Design e Tecnologia para a Cerâmica, situação que parece ter-se alterado com a entrada em cena de um novo plano de estudos, em 2013, o Curso de Design de Produto – Cerâmica e Vidro. A exposição IN. IT, realizada em 2016 no âmbito do programa MOLDA (Caldas Cidade Cerâmica) permitiu rever trabalhos dos alunos deste Curso.
ESAD
A colaboração, promovida pela MOLDA, do promotor Câmara Municipal com diversos parceiros, designadamente a ESAD e a associação Património Histórico – Grupo de Estudos, deu origem ao que pudemos designar pelos primórdios de uma colecção de Design Cerâmico Contemporâneo, formado por cerca de 100 peças de 50 autores internacionais. Esta colecção encontra-se actualmente à guarda da ESAD.
Quanto às colecções públicas de cerâmica, o panorama de 1977 modificou-se substancialmente, com a criação do Museu de Cerâmica e a constituição de uma Colecção Municipal de Cerâmica.
O Museu de Cerâmica baseou a sua colecção, como vimos, na aquisição da colecção particular de Alfredo Lucas Cabral. Às cerca de 300 peças desta colecção, somaram-se cerca de 600 da colecção do Visconde Sacavém, incorporadas com o próprio edifício.
De 1984 para cá o crescimento das colecções tem dependido de doações, depósitos e algumas incorporações, as mais importantes das quais oriundas do Museu José Malhoa (mais de 400 peças). Em 1984 recebeu em depósito cerca de 90 peças da Fábrica do Rato. Em 2007, Francisco Coutinho Carreira doou ao Museu 1200 peças de cerâmica e vidro contemporâneos, de produção nacional e internacional.
No que respeita à cerâmica das Caldas, o crescimento tem sido moderado. O museu nunca dispôs de orçamento que permitisse às suas direcções definirem um plano de aquisições e de completamento dos núcleos expositivos. Na impossibilidade de redimensionar as suas colecções, também por manifesta exiguidade e inadequação de instalações, afectando a dinâmica da sua exposição permanente, o museu tem procurado franquear essas limitações com recurso a exposições temporárias.
A principal novidade, neste capítulo, consistiu na entrada em cena do município na aquisição de colecções. A Câmara começou por adquirir o conjunto caldense da colecção Artur Maldonado Freitas, com o objectivo de a instalar em museu próprio. Estava-se então nos anos 1990. O processo revelou-se, porém, mais atribulado do que se antecipara e o projecto museológico ficou comprometido, não tendo o município garantido a posse da totalidade do conjunto inicialmente acordado, do qual, no entanto, restaram cerca de 300 peças. 
A Câmara adquiriu, depois, espólios de três unidades industriais em dificuldades: a Bordalo Pinheiro, a SECLA e a Molde. Da Bordalo ficou com acesso aos moldes antigos da fábrica, da SECLA trouxe peças (cerca de 6500), documentação e moldes. Da Molde obteve peças (cerca de 6000) e documentação relativas aos primeiros dezassete anos de produção da empresa, fundada em 1988.
Em 2009, a Câmara estabeleceu com o ceramista Ferreira da Silva um acordo para aquisição de peças de sua autoria de forma a constituir uma colecção municipal a instalar num futuro ateliê-museu com o seu nome. Esse acordo esteve activo até 2012, tendo, em três anos de vigência, originado um significativo acervo municipal de obra pública e de peças móveis do artista (cerca de uma centena).
Em 2018, no âmbito do programa Molda, a Câmara Municipal deu o primeiro passo para um projecto de aquisição anual de cinco modelos de peças propostas por autores com radicação local há pelos menos 10 anos, uma iniciativa que também se reflecte no património municipal de peças contemporâneas.
A Câmara entrou também na posse de um acervo de artesanato, com cerca de 600 peças de olaria tradicional de diversas regiões do país.
Faianças Bordalo Pinheiro

2. Cerâmica em espaço público
Uma profusão de formas cerâmicas foram acumuladas ao longo de séculos em edifícios de acesso público – hospitais, escolas, igrejas, sedes de associações, serviços municipais e outros serviços públicos, gares e estações – bem como nas ruas, praças e jardins, estabelecimentos comerciais e em vivendas particulares, mas avistáveis, da cidade. São placas relevadas, em alto ou baixo relevo, azulejos de diversas configurações, painéis cerâmicos. Na contemporaneidade. a cerâmica surge até em  criações compósitos, originando monumentos urbanos de grande complexidade e intensidade plásticas, como é o caso dos “Jardins de Água” de Ferreira da Silva.
Ferreira da Silva, Jardins de Água
O revestimento azulejar do interior de igrejas tem notáveis exemplares na cidade, desde a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, que está associada à fundação moderna das Caldas da Rainha no século XVI. Do século XVIII, também chegaram até nós composições azulejares de excelente qualidade, como as que permanecem na Capelas de São Sebastião e de São Jacinto.
Interior da Igreja de S. Sebastião
O edificado urbano caldense apresenta um impressionante roteiro de azulejo, representativo dos fabricos nacionais e caldenses dos séculos XIX e XX. Aqui foram aplicados em panos, frisos ou remates de fachadas, azulejos da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, da Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro Lda, da SECLA, do Cencal ou da Molde, por exemplo, bem como da Fábrica de Louça de Sacavém, ou da Fábrica de Cerâmica das Devesas de Vila Nova de Gaia.
O inventário e estudo deste imenso material cerâmico foi feito, necessitando no entanto revisão e actualização. Constitui uma colecção que singulariza o património urbano das Caldas da Rainha. 
Recentemente a Câmara Municipal, em parceria com a Faianças Bordalo Pinheiro, produziu e distribuiu por locais emblemáticos da cidade um conjunto de 15 figuras em grande escala do universo bordaliano.

3. Estudos
A história da actividade cerâmica caldense originou nas últimas quatro décadas um conjunto assinalável de investigações, traduzidas em exposições e publicações.
Este esforço permitiu diversificar a atenção sobre os legados de um centro de produção activo, sem solução de continuidade, durante mais de cinco séculos. Sem esquecer o lugar das obras de grande projecção nacional, o trabalho de pesquisa tem permitido revelar percursos de ceramistas menos conhecidos, reconstituir linhas e séries de produção industrial, abordar novas problemáticas, como as da formação profissional ou dos recursos tecnológicos, e desocultar ou retirar da sombra processos e criadores injustamente desmerecidos.
Duas entidades tiveram um papel fundamental neste combate pelo conhecimento histórico: o Museu de Cerâmica e a associação Património Histórico – Grupo de Estudos. O Museu de Cerâmica foi constituído em 1984 por iniciativa da cidade que o Estado reconheceu (Secretário da Estado da Cultura, David Mourão Ferreira). Na primeira década do século XXI, a sua direcção (Cristina Ramos e Horta) realizou um programa de revisão aprofundada das obras cerâmicas do Visconde Sacavém, de Rafael Bordalo Pinheiro, de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, de António Costa Mota Sobrinho e de Manuel Cipriano Gomes Mafra. A associação PH, formada em 1991, dedicou à história da cerâmica, tanto na vertente fabril, como autoral, diversas publicações, participou nos trabalhos de levantamento da cerâmica caldense da segunda metade do século XX, colaborou num projecto museológico para a SECLA, publicou o primeiro estudo de conjunto sobre a azulejaria de fachada da cidade, constituiu o Centro de Documentação Cerâmica Contemporânea Caldense a que deu o nome de Ferreira da Silva.
Também merecem referencia o CENCAL e a ESAD. O primeiro editou em 1987 uma brochura sobre as unidades de produção constantes dos inquéritos industriais da segunda metade do século XX e, na revista Cerâmicas, que editou durante uma década, entre 1989 e 1999, publicou estudos e documentos para a história da cerâmica e dos ceramistas das Caldas da Rainha. A Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, depois de ter acolhido, nos seus dois primeiros anos de existência, um cadeira de história da cerâmica e apoiado a publicação do estudo acima referido sobre azulejaria, recuperou nos últimos anos essa vertente lectiva e desenvolveu, no âmbito do Projecto CP2S 2018/2019, áreas novas de pesquisa, como a que dedicou às bibliotecas científicas e técnicas dos ceramistas industriais, e de reflexão sobre o futuro deste imenso legado patrimonial.
O presente relatório insere no final uma extensa bibliografia sobre a história da cerâmica das Caldas publicada a partir de 1977.
CENCAL

4. Edifícios
O actual museu de Cerâmica está instalado no edifício conhecido por Palacete do Visconde de Sacavém, ocupando também os jardins e anexos da habitação, um imóvel adquirido em 1981 pelo Estado. Foi construído na década de 1890, como residência de férias de José Pinto (Sacavém). O edifício principal, hoje aberto ao público com a exposição permanente do Museu, disponibiliza cerca de 450 m2 (165 m2 por piso), cabendo aos restantes edifícios, incluindo a sala de exposições temporárias, cerca de 380 m2, a que acrescem 3400 m2 de área ajardinada.
Este é o único espaço dedicado à museologia cerâmica nas Caldas da Rainha. Nenhuma das colecções a seguir mencionadas está exposta em edifício alvo de tratamento museológico específico.
O CENCAL distribui peças da sua colecção por armários, estantes e vitrines. A ESAD não dispõe de equipamento expositivo para o seu acervo de cerâmica. A Escola Rafael Bordalo Pinheiro tem o seu pequeno espólio de peças apresentado em plintos e vitrines em corredores e átrios do edifício. A Faianças Bordalo Pinheiro afectou uma parte de um dos seus edifícios às guarda de peças da sua colecção histórica acondicionadas em vitrines. O património municipal de cerâmica está em reservas de museus, não integra edifícios com vocação museológica imediata para a cerâmica.
Esta ausência de instalações museológicas adequadas às colecções implica que a expansão museológica da cerâmica caldense só possa ocorrer num quadro de aquisição e adaptação de novos edifícios ou de construção de raiz de novos espaços técnicos e expositivos. Serão apresentadas algumas hipóteses de trabalho no conjunto de propostas adiante indicadas no presente Relatório.
Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro
Refira-se, a este propósito, que o coleccionador João Maria Ferreira acondicionou a sua colecção num edifício adquirido para esse efeito, as instalações do antigo Banco de Portugal, na Praça da República. As peças encontram-se guardadas em armários e expostas em vitrinas, em mesas e nas paredes. O coleccionador prepara a edição de um catálogo da colecção.


*Relatório elaborado no âmbito do projecto de investigação Cerâmica, Património e Produto Sustentável: do Ensino à Indústria (CP2S) publicamente apresentado no Seminário Final do referido projecto, a 20 de Março de 2019. Esta edição teve a colaboração fotográfica de João Martins Pereira.
**Professor coordenador do Instituto Politécnico de Leiria/Escola de Artes e Design das Caldas da Rainha. Investigador do Laboratório de Investigação em Design e Artes. 
***Uma primeira versão deste Relatório foi discutida com os meus colegas e amigos, Professores Inês Moreira e José Luís de Almeida e Silva, a quem agradeço as observações críticas, muitas das quais incorporei nesta versão. Esta circunstância não os responsabiliza. porém, nem pela análise da situação, nem pela natureza das propostas aqui adiantadas.

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