segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Brennand na cidade dos poetas

Júlio Resende trouxe Francisco Brennand ao seu Lugar do Desenho, em Gondomar, em finais de 2001. A exposição, organizada à margem do programa oficial da Porto 2001 Capital Europeia da Cultura, era constituída por pintura e cerâmica.
Foi aí que, pela primeira vez, pude observar directamente a cerâmica de Brennand, que conhecia através de livros e fotografias e do site que introduz a monumental recuperação da fábrica de seu pai, em Recife (pode ser visto aqui: http://www.brennand.com.br).
Júlio Resende tinha-o visitado, no principio da década de 1970, exactamente na sua Oficina da Fábrica S. João, onde o artista tinha começado a erguer, no meio da floresta de Pernambuco, um mundo povoado de figuras inspiradas na mitologia e na antropologia, totems de grande proporções, e um bestiário igualmente fantástico – ou fantasmático.
Entretanto, o meu amigo e hoje colega José Luis de Almeida e Silva, também o descobriu, surpreendido, numa visita ao nordeste, pela mesma altura em que se efectivou a exposição do Porto, e mostrou-me algumas fotografias que então tirara.
Em 2002 e 2003 Brennand aceitou uma encomenda da Câmara de Oeiras, então presidida por Isaltino de Morais, para assinalar, no Parque dos Poetas, o poeta Manuel Bandeira, cuja poesia consumaria a revolução modernista no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930.
Brennand foi buscar ao seu léxico de formas as personagens que ilustram o poema Canção das Duas Índias do autor de Vou-me Embora Pra Pasárgada: as mulheres de gargantas inchadas - mulheres atormentadas, os pássaros guardiães – que preservam a vida, o ovo cósmico – princípio da vida,  o  abutre fálico – masculino/feminino. Com elas construiu um espaço de dor, de morte, de evasão, mas também de lirismo e de vida, numa encenação de grande força simbólica.


















Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu no Recife em 1927, no seio de uma família de origem inglesa. Iniciou-se na cerâmica na fábrica de S. João, fundada por seu pai, em 1947. Aí conheceu escultores e pintores com os quais fez boa parte da sua formação. Outra parte recebeu-a em Paris, a seguir à Guerra, onde estudou com Fernand Leger e André Lother. Em Barcelona deixa-se seduzir pela obra de Gaudi e em Itália aprofunda conhecimentos de cerâmica. Em 1971, com uma obra premiada e consagrada, instala-se na antiga oficina do seu pai, que reconstrói, onde expõe e realiza encomendas para todo o mundo.

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