domingo, 19 de novembro de 2017

Jardim de Água: situação inquietante

A Gazeta das Caldas insere na sua última edição (17 de Novembro) uma reportagem sobre a situação em que se encontra o monumento-instalação de Ferreira da Silva intitulado Jardim de Água.
Situação inquietaste - não pode deixar de ser a conclusão que se retira dos depoimentos reunidos pela jornalista Natasha Narciso.
Inquietante em dois planos: o da protecção da obra e o da sua gestão.
Os sinais de degradação das peças criadas por Ferreira da Silva são evidentes e todos os intervenientes na reportagem o reconhecem. Porém nenhum deles assume com clareza a obrigação e o empenho em travar e inverter esse caminho inclinado da deterioração do monumento.
Embora o trabalho jornalístico não aborde explicitamente o tema da gestão do conjunto escultórico e cerâmico, ele pontua todo o texto. Os intervenientes concordam que se trata de uma obra artística de excepcional envergadura e complexidade. Não parecem, contudo, dispor de quaisquer planos para a salvaguardar, proteger e valorizar.
A questão da propriedade é apresentada pelos representantes dos poderes autárquicos – Câmara e Junta de Freguesia – como um obstáculo ao seu envolvimento na gestão do monumento. De facto a obra foi encomendada e financiada pelo Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, mas a sua singularidade e relevância transcendem largamente o âmbito institucional do património do seu detentor. O Jardim de Água é um bem cultural que distingue e qualifica uma cidade, uma disciplina artística – a cerâmica – uma região, um país.
O impasse que parece resultar desta incongruência entre o âmbito da instituição que é proprietária e o âmbito da projecção cultural do património resolve-se através da cedência temporária ou definitiva da gestão do Jardim de Água.
Esta matéria deveria ter sido antecipada e regulada pelo mesmo instrumento jurídico que autorizou a passagem para a administração municipal de um importante conjunto patrimonial detido pelo Centro Hospitalar, a saber: o Hospital Termal Rainha D. Leonor, Parque D. Carlos I e a Mata da Rainha D. Leonor.
É hoje claro que, tendo sido cedido à gestão municipal o património termal mais antigo da cidade, seria avisado ter incluído no mesmo acto o Museu do Hospital e das Caldas e o Jardim de Água. O primeiro é o repositório do património móvel e da documentação histórica relativa ao património edificado transferido e o segundo é a mais importante criação artística contemporânea evocativa das origens da cidade.
Como agora ficou provado, uma destas “reservas” de propriedade – a relativa ao Jardim de Água - traz descuido e origina desresponsabilização. Da outra “reserva” – o Museu do Hospital e das Caldas – não se fala, mas é evidente que diminuiu o ritmo da sua presença na cidade. 

A iniciativa da associação Património Histórico de promover junto da Direcção Geral do Património Cultural e da Câmara Municipal a classificação do Jardim de Água é oportuna e pode vir a revelar-se profícua. O reconhecimento do valor excepcional do monumento cerâmico de Ferreira da Silva consagra a sua inclusão numa lista de património que o Estado tem de proteger. Os estudos e consultas necessários para fundamentar a proposta de classificação podem constituir um ensejo para que as entidades responsáveis pela preservação e gestão do monumento se sentem à mesa e acordem as soluções, antes que os problemas se agravem irremediavelmente.

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