Devo a Margarida Araújo a
descoberta e investigação da relação entre a obra de Columbano – Alegoria à Cerâmica – e a Fábrica de
Faianças das Caldas da Rainha fundada em 1884.
Tudo começou com uma fotografia
de Francesco Rocchini que faz hoje parte do acervo do Arquivo Histórico
Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa, e que a seguir se reproduz.
Pavilhão de Vendas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha [Arquivo Histórico Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa] |
Trata-se de um negativo em
gelatina e prata de vidro, com as dimensões de 24x30 cm. De acordo com a nota
biográfica publicada no site do Arquivo Português de Fotografia, “Francesco
Rocchini nasceu em Monte Leone, Itália, por volta do ano de 1820. Veio para
Portugal na década de 40 do século XIX (1844 ou 1847) e era marceneiro de
profissão. Provavelmente aprendeu o processo do daguerreótipo com K. P.
Corentin que em 1851 ensina-lhe a técnica em Lisboa. Fotografou pelo país
inteiro, aliando as actividades de marceneiro, fotógrafo, fabricante de
máquinas, de acessórios para fotografia e de pequenos laboratórios para
trabalhar ao ar livre. Inicialmente localizado na Travessa de Santa Gertrudes,
à Estrela, estabeleceu-se depois com um estúdio de fotografia na Travessa da
Água Flor, n.º 21, 2º a São Pedro de Alcântara, no decurso do ano de 1865. Foi
fornecedor de imagens para revistas nacionais e estrangeiras, nomeadamente a Ilustração Portuguesa, o Panorama Photographico e O Ocidente, e para as Academias de Belas
Artes. Foi também fotógrafo da Casa Real portuguesa. Publicou parte dos seus
trabalhos em álbuns com albuminas de vistas e monumentos. Rocchini morreu em
1895 continuando o seu estúdio em funcionamento, o seu novo proprietário, J.
Nunes Ribeiro, alterou o nome comercial da casa para Fotografia Beleza”.
A imagem regista o interior do
Pavilhão de Vendas da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, estabelecida em
1884 nesta vila, cujo director artístico era Rafael Bordalo Pinheiro. Esse
pavilhão esteve na mira de diversos fotógrafos, tendo alguns dos clichés sido
editados em bilhete postal ilustrado nos finais do século XIX e primeiros anos
do século XX.
Mostram-se, em seguida, algumas
dessas fotografias da época, quer do interior quer do exterior do Pavilhão.
O que intrigou a dr.ª Margarida Araújo foi a pintura que se pode observar no tecto do Pavilhão de Vendas. Não se
encontrou, até agora, em nenhuma outra das imagens conhecidas daquelas
instalações.
Ampliando a reprodução
fotográfica, foi possível identificar a pintura. Trata-se de uma das alegorias
pintadas por Columbano (aliás Columbano Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael), esta dedicada à cerâmica.
A obra, que a seguir pode ser
observada, faz hoje parte do acervo do Museu de Arte de S. Paulo, onde foi
incorporada, por doação, em 1972 (cf. https://www.masp.org.br/acervo/obra/alegoria-da-pintura-sobre-ceramica).
A análise dos elementos que
compõem a tela não deixa dúvidas. No lado esquerdo, da pintura podemos ver um
forno, da tipologia “Minton” da Fábrica de Faianças (abaixo, insere-se uma
fotografia da antiga Fábrica com esses fornos característicos), e, no lado
direito, os volumes arquitectónicos do próprio Pavilhão de Vendas. Em baixo à
direita, uma talha de grandes proporções ostenta os elementos decorativos
comuns à louça naturalista caldense da segunda metade do século XIX.
Fotografia das antigas instalações industriais da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha |
A pintura está datada de 1885,
ou seja do próprio ano em que as instalações industriais da Fábrica foram
inauguradas, com os aludidos fornos de refractário para cozedura de faiança
utilitária de mesa. Tem as dimensões de 500x300 cm, certamente adequadas ao
espaço a que se destinava.
Por motivos que desconheço, mas
a que poderá não ser estranha a crise financeira que atingiu irreversivelmente
a empresa em 1890, a tela foi retirada do Pavilhão de Vendas, sendo substituída
por outra decoração, mais convencional. Deve ter estado exposta nas Caldas
provavelmente apenas na segunda metade da década de 1880, quando foi fotografada por Rocchini.
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