quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Olaria sem roda de oleiro


Anastacia Cruz. Artista del Barro

 

Para la reestructuración de la sala Culturas del Golfo de México, el equipo curatorial de la Subdirección de Etnografía ha llevado a cabo un minucioso inventario de las colecciones existentes en los acervos del museo. Este ejercicio ha permitido identificar la ausencia de específicas expresiones de la cultura material de la Huasteca y el Totonacapan. Para resarcir estos faltantes hemos llevado a cabo numerosas visitas a diferentes municipios de los estados de Veracruz, Hidalgo, Puebla y San Luis Potosí, documentando los procesos de creación artesanal que distinguen y dan personalidad a las culturas nahua, otomí, tepehua, totonaca y huasteca.

En estas travesías etnográficas decidimos hacer puerto en la comunidad de Siete Palmas, municipio de Ixcatepec. Ubicada al norte del estado de Veracruz, en el corazón de la Huasteca, Siete Palmas es hogar de Anastacia Cruz, alfarera nahua de cuyas manos nacen ollas, comales, sahumerios y lebrillos cuya perfección, tanto en forma como en diseño, destaca a nivel regional. Sin ayuda de torno, moldes u otra maquinaria, doña Anastacia logra circunferencias casi perfectas haciendo gala de su destreza en la milenaria técnica de rollos o churros, que consiste en construir un prototipo de la pieza sobreponiendo rollos de barro que después serán modelados manualmente.

Cada pieza supone una larga historia de experimentación. Las proporciones de arena, por ejemplo, serán diferentes según se trate de un comal o una olla. Como del primero se espera que trasmita más calor para cocer la masa de maíz o asar otras semillas, al barro se añadirá más arena, es decir, mayor cantidad de pequeñas piedras. De manera similar, la experiencia ha demostrado que la leña de bambú es mejor que cualquiera otra pues se consume sin dejar brasas, es decir, se reduce completamente a cenizas.

El tiempo de trabajo depende del tipo de pieza. Por su forma plana, los comales tardan una semana en estar listos. Primero se les da cuerpo y se les deja secar por cinco o seis días según el clima para, finalmente, ponerlos a cocer al fuego. Ollas y lebrillos implican procesos más largos. Como se trata de recipientes, el moldeado es gradual: primero se construyen las paredes que se dejan secar por una semana para que consoliden; posteriormente se cierra la base logrando así el cuenco, mismo que de nueva cuenta se deja secar, siempre a la sombra, por otra semana. Una vez que han alcanzado su forma característica y están casi secos, son decorados con óxido ferroso antes de ser llevados a la hoguera de bambú.

Como apreciamos, detrás de un comal para hacer tortillas, de la olla de los frijoles o del sahumerio con cuyo humo se espera a los difuntos en el Día de Muertos, permanecen el saber y el esfuerzo centenarios de los alfareros de la Huasteca. En la actualidad, sin embargo, esta tradición se ve amenazada por la introducción de utensilios de metal, más baratos y duraderos que las bellas creaciones cerámicas. De ahí la necesidad de conocer, resguardar y difundir la diversidad cultural de los pueblos huastecos, diversidad de la cual es evidencia y testigo Anastacia Cruz, maestra alfarera en cuyas manos cobra vida el barro. El museo se complace en anunciar la exhibición de algunos de sus lebrillos en la futura sala Culturas del Golfo de México.

 

Mtro. Leopoldo Trejo

Curador-investigador, MNA


https://mna.inah.gob.mx/detalle_huella.php?pl=Anastacia_Cruz_Artista_del_Barro

sábado, 13 de junho de 2020

A extraordinária obra em cerâmica de Alejandro Santiago sobre a diáspora

“A obra de Alejandro Santiago pode situar-se entre estes dois ângulos: um para descobrir a sua terra e as suas lendas; outro para descobrir a realidade da sua comunidade - a bela e mágica, mas também a incómoda e horrível - a efabulação dos mitos que parecem botar espontaneamente da natureza da sua própria terra e a tristeza do seu contexto de vida esgotado pela pobreza e pela emigração.
Santiago é o autor de pinturas de animais flutuantes e o criador de 2501 Emigrantes, figuras de barro onde se descobrem ausências (as da sua aldeia Teocuilco de Marcos Pérez, na Serra de Oaxaca, ou do número aproximado de mortes na fronteira entre o México e o Estados Unidos - existem estas duas interpretações da obra). É sua uma marca pictórica expressionista repleta de ocres e verdes, a referência ao horror do abandono e da morte por via de uma realidade que parece engolir pouco a pouco os contos e as lendas. Já não há onde encontrar essa magia que emerge dos animais e plantas oaxaquenhos? E se a aldeia acaba, porque todos morrem e com eles a sua língua, as suas cores e as histórias com que sonhavam uma vida melhor? 2501 figuras humanas de barro, todas diferentes, moldadas e cozidas por 32 artistas oaxaquenhos, viajaram em 2007 até ao Fórum Universal das Culturas em Monterrey, e, a seguir, até ao Zocalo (Praça da Constituição) na Cidade do México, a Bruxelas, São Francisco, Paris e Oaxaca: um exército de ausências, esperanças e perdas, observadas e registadas por milhares de espectadores através de uma “selfie”. 
Dolores Garnica, Magis, Fev. Março de 2017.

Alejandro Santiago nasceu em Teocuilco, uma aldeia do Estado mexicano de Oaxaca, em 1964, e morreu em 2013.
Frequentou a Oficina de Artes Plásticas criada em 1974 em Oaxaca, sob a inspiração de Rufino Tamayo (1899-1991), um dos pintores mexicanos do século XX mais conhecidos e celebrados internacionalmente (foi prémio Gulbenkian do Instituto das Artes de Paris, em 1969, Prémio de Pintura da Bienal de São Paulo em 1953), nascido em Oaxaca. Esta escola, hoje integrada no Departamento de Cultura e Artes de Oaxaca, foi constituída como alternativa à Escola de Belas Artes. Foi concebida como um espaço aberto aos jovens onde pudessem expor as suas criações e beneficiar de espaços de discussão, de análise e de experimentação. Tamayo participou com um importante donativo para o equipamento da escola.
Santiago trabalhou em Oaxaca e em Paris, em pintura com pigmentos sobre papel e papel “amate” (papel artesanal mexicano) e em óleo sobre tela. As suas obras, combinando primitivo e moderno, impressionaram favoravelmente galeristas e críticos de arte.
Em 2000 realizou sete esculturas de barro, uma experiência de representação cerâmica de figuras a uma escala próxima do natural ,inspiradas na paisagem humana da sua aldeia natal.
Foi a partir desta experiência que em 2001 concebeu o extraordinário projecto de compor 2501 estátuas cerâmicas em grés alusivas ao tema da emigração.
Durante 6 anos ocupou-se desta exigentíssima e desgastante empresa, no seu ateliê em Santiago Suchilquitongo, uma povoação perto de Oaxaca, que transformou numa empresa comunitária, na qual participarem 32 jovens e a sua própria família, sob a direcção de produção de Zoila Santiago, mulher de Alejandro. Todas as peças de barro assim elaboradas apresentam, nos pés, uma espécie de assinatura de cada um dos 32 jovens colaboradores do artista, índios mexicanos e mestiços. O processo está descrito aqui, por Cristina Rivera Garza.
Conta o galerista Robert Mc Donald (que com a mulher, Vivien, dirige The Bond Latin Art Gallery, em San Francisco) que trabalhou com Alejandro, que o artista, impressionado com o drama dos emigrantes que atravessavam a fronteira entre o México e os Estados Unidos, fez ele próprio esse percurso de emigrante ilegal para testemunhar as dificuldades imensas dessa perigosa viagem na qual muitos encontravam a morte. O testemunho de Robert pode ser lido aqui.
Entretanto, Alexandro percebeu, no regresso à sua aldeia, o efeito desintegrador e funesto que a emigração tinha sobre as comunidades de origem. Durante centenas de anos, essas comunidades tinham permanecido plenas de vida e de identidade. A emigração transformava as aldeias em amontoados de casas vazias, tomadas por fantasmas, e os campos agrícolas em terras abandonadas e sem préstimo.
A execução deste generoso e enternecido projecto de Alejandro foi registada num documentário que pode ser visto (incompleto) aqui.
Infelizmente, o projecto revelar-se-ia também esgotante para Santiago. A diabetes e a alcoolémia diminuíram a sua resistência intelectual e física e estiveram na origem de uma morte prematura.
Esta monumental obra tem vindo a ser conhecida nos últimos tempos. Nos finais de 2019 foi apresentada no Cemitério Hollywood Forever de Hollywood, em Los Angeles, associada à celebração do dia dos mortos.













Actualmente 501 peças estão expostas no Colégio de Santo Ildefonso, no Centro Histórico da Cidade do México. 

A cineasta Yolanda Cruz realizou em 2010 um documentário intitulado 2501 Migrants: A Journey/Reencuentros onde se retrata o desenvolvimento do projecto artístico de Santiago. Pode ser visto na íntegra aqui (se se interessou por este tema e leu este post até este ponto, não deixe de ver o belíssimo documentário de Yolanda).

As imagens que se seguem foram recolhidas por mim a partir do registo fílmico de 2006, acima referido.