A Gazeta das Caldas
insere na sua última edição (17 de Novembro) uma reportagem sobre a situação em
que se encontra o monumento-instalação de Ferreira da Silva intitulado Jardim
de Água.
Situação inquietaste - não pode deixar de ser a conclusão que
se retira dos depoimentos reunidos pela jornalista Natasha Narciso.
Inquietante
em dois planos: o da protecção da obra e o da sua gestão.
Os sinais de degradação das peças criadas por Ferreira da
Silva são evidentes e todos os intervenientes na reportagem o reconhecem. Porém
nenhum deles assume com clareza a obrigação e o empenho em travar e inverter
esse caminho inclinado da deterioração do monumento.
Embora o trabalho jornalístico não aborde explicitamente o
tema da gestão do conjunto escultórico e cerâmico, ele pontua todo o texto. Os
intervenientes concordam que se trata de uma obra artística de excepcional
envergadura e complexidade. Não parecem, contudo, dispor de quaisquer planos
para a salvaguardar, proteger e valorizar.
A questão da propriedade é apresentada pelos
representantes dos poderes autárquicos – Câmara e Junta de Freguesia – como um
obstáculo ao seu envolvimento na gestão do monumento. De facto a obra foi
encomendada e financiada pelo Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, mas a sua
singularidade e relevância transcendem largamente o âmbito institucional do
património do seu detentor. O Jardim de Água é um bem cultural que distingue e
qualifica uma cidade, uma disciplina artística – a cerâmica – uma região, um
país.
O impasse que parece resultar desta incongruência entre o
âmbito da instituição que é proprietária e o âmbito da projecção cultural do
património resolve-se através da cedência temporária ou definitiva da gestão do
Jardim de Água.
Esta matéria deveria ter sido antecipada e regulada pelo
mesmo instrumento jurídico que autorizou a passagem para a administração
municipal de um importante conjunto patrimonial detido pelo Centro Hospitalar,
a saber: o Hospital Termal Rainha D. Leonor, Parque D. Carlos I e a Mata da
Rainha D. Leonor.
É hoje claro que, tendo sido cedido à gestão municipal o
património termal mais antigo da cidade, seria avisado ter incluído no mesmo
acto o Museu do Hospital e das Caldas e o Jardim
de Água. O primeiro é o repositório do património móvel e da documentação
histórica relativa ao património edificado transferido e o segundo é a mais
importante criação artística contemporânea evocativa das origens da cidade.
Como agora ficou provado, uma destas “reservas” de
propriedade – a relativa ao Jardim de
Água - traz descuido e origina desresponsabilização. Da outra “reserva” – o
Museu do Hospital e das Caldas – não se fala, mas é evidente que diminuiu o
ritmo da sua presença na cidade.
A iniciativa da associação Património Histórico de promover
junto da Direcção Geral do Património Cultural e da Câmara Municipal a
classificação do Jardim de Água é oportuna
e pode vir a revelar-se profícua. O reconhecimento do valor excepcional do monumento
cerâmico de Ferreira da Silva consagra a sua inclusão numa lista de património
que o Estado tem de proteger. Os estudos e consultas necessários para fundamentar
a proposta de classificação podem constituir um ensejo para que as entidades responsáveis
pela preservação e gestão do monumento se sentem à mesa e acordem as soluções, antes
que os problemas se agravem irremediavelmente.
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