Alberto Pinto Ribeiro e a fundação da SECLA*
Joaquim Alberto Pinto Ribeiro nasceu em Lisboa em 1921. Uma aptidão natural para o desenho conduziu-o à Escola de Belas Artes de Lisboa, em 1938, para cursar Arquitectura. Dificuldades económicas familiares forçaram-no, porém, a interromper os estudos.
Foi então admitido como recepcionista no Hotel Avis, mercê das suas competências no domínio de línguas estrangeiras.
Em 1941, torna-se o primeiro funcionário português da Standard Oil Company of New Jersey, conhecida pela sigla ESSO, que decidira montar um escritório em Portugal. A rede de relações com o mercado americano, que estes dois primeiros empregos lhe possibilitaram, revelar-se-ia fundamental para o lançamento e consolidação do projecto seguinte, no sector da produção cerâmica de exportação. De facto, foi naquele contexto que conheceu um empresário novaiorquino, Clifford Furst, co-proprietário duma joalharia na 5ª Avenida, a Castlecliff, que o convidou a ser seu agente na compra de artesanato português.
Do leque de produtos cujo potencial exportador lhe competia identificar, fazia parte louça, designadamente louça das Caldas.
Foi a possibilidade de ter um negócio próprio que levou Alberto Pinto Ribeiro, estimulado por Furst, a fundar uma empresa que tinha por objecto a colocação de cerâmicas caldenses no mercado americano. Clifford conhecia bem os trâmites da importação e venda de produtos artesanais e alertou o seu agente para a dimensão das encomendas, os prazos de entrega e as condicionantes do design. O contacto directo com os fabricantes caldenses levou Pinto Ribeiro a concluir que teria de intervir directamente na produção, de passar de agente a empresário.
Alberto Pinto Ribeiro |
Encontrou na Volcar, um empresa de origem britânica, activa em Portugal no período da Grande Guerra na exploração de volfrâmio, um parceiro para constituir a sua empresa.
A fábrica de manilhas de grés de Inácio Perdigão, na rua Henrique Salles, aceitou ceder parte das suas instalações para a produção das faianças de Pinto Ribeiro. Foi ali que nasceu a Fábrica Mestre Francisco Elias, ainda em 1944. No ano seguinte já disporia de oficinas próprias, num terreno onde o pai de Alberto possuía uns barracões.
A fábrica de manilhas de grés de Inácio Perdigão, na rua Henrique Salles, aceitou ceder parte das suas instalações para a produção das faianças de Pinto Ribeiro. Foi ali que nasceu a Fábrica Mestre Francisco Elias, ainda em 1944. No ano seguinte já disporia de oficinas próprias, num terreno onde o pai de Alberto possuía uns barracões.
Foram atribulados os primeiros tempos da empresa. Furst desistiu das importações, para se centrar na joalharia e a Volcar também não quis prosseguir com o investimento na cerâmica. O lugar do primeiro veio a ser ocupado por Martin Freeman, e o da segunda preenchido por quatro novos sócios: Fernando da Ponte e Sousa, Fernando Carneiro Mendes, Vitorino Costa Vinagre e Américo Castro Arez, estes três últimos sócios da empresa Costa & Arez Lda, uma firma que representava diversas marcas de aparelhos rádio-eléctricos de recepção e difusão.
É com a constituição desta nova sociedade que a empresa muda o seu nome para SECLA, Sociedade de Exportação e Cerâmica Lda, em Dezembro de 1946.
É com a constituição desta nova sociedade que a empresa muda o seu nome para SECLA, Sociedade de Exportação e Cerâmica Lda, em Dezembro de 1946.
A SECLA em obras |
Alberto Pinto Ribeiro, com uma quaota de 25%, é o gerente de fábrica. Constitui família, passa a residir nas Caldas da Rainha. Em poucos anos, revoluciona, tanto no plano técnico e tecnológico, como no planos artístico e decorativo a produção de louça das Caldas.
A sua presença na fábrica faz-se sentir em múltiplas frentes: a da orientação técnicas, a do design, a do contacto com os clientes e o da gestão comercial e empresarial. Neste ultimo domínio, há que registar que a SECLA se torna uma empresa de grande dimensões, assumindo que lhe cabe também desenvolver funções sociais para os trabalhadores e famílias: desde a assistência médica ao fornecimento de refeições, desde a actividade cultural à prática desportiva.
E ainda encontra disponibilidade para dar aulas de Química Tecnológica na Escola Industrial, que encara como um campo potencial de recrutamento de ceramistas para a SECLA.
A sua presença na fábrica faz-se sentir em múltiplas frentes: a da orientação técnicas, a do design, a do contacto com os clientes e o da gestão comercial e empresarial. Neste ultimo domínio, há que registar que a SECLA se torna uma empresa de grande dimensões, assumindo que lhe cabe também desenvolver funções sociais para os trabalhadores e famílias: desde a assistência médica ao fornecimento de refeições, desde a actividade cultural à prática desportiva.
E ainda encontra disponibilidade para dar aulas de Química Tecnológica na Escola Industrial, que encara como um campo potencial de recrutamento de ceramistas para a SECLA.
Fachada principal da SECLA nos anos 1950 |
A modernidade que traz à produção de louça das Caldas traduz-se em novos produtos, em novo design, em novas cores, em novas pastas e novos processo e equipamentos de conformação e de cozedura. Uma das inovações mais significativas que introduziu na produção corrente assentou no novo papel que atribuiu à pintura, em detrimento das composições relevadas que tinham sido apanágio da louça naturalista caldense desde o último quartel do século XIX.
Louça da SECLA |
Em 1966, retira-se da gerência da SECLA e regressa a Lisboa onde funda a empresa Portus Lda e recupera o desafio original de exportar produtos de artesanato portugueses.
*Texto redigido com recurso às seguintes fontes: entrevista realizada por João B. Serra e Sofia Baptista a João Pinto Ribeiro a 25 de Janeiro de 2019; a obra de Alberto Pinto Ribeiro, A Nova Cerâmica das Caldas (sec. XX). Lisboa, Edição de Autor, 1989.